ÍTACA:
cartografias de uma viagem

2024

FONTE
R. Mourato Coelho, 751 – Vila Madalena, São Paulo – SP, 05417-011

Texto Curatorial

Ítaca, poema de Constatinos Kaváfis, baseado no épico Odisseia, de Homero, narra a longa viagem de Ulisses (ou Odisseu) de retorno a sua terra natal, após a Guerra de Tróia. Maldito pelos deuses por sua húbris e por ter injuriado Polifemo, filho de Poseidon, a viagem ou o exílio dura 10 anos. A jornada de Ulisses é o percurso do herói o qual trata da teoria da estrutura narrativa. O herói tem que restaurar um estado ideal e para isso passa por inúmeros percalços e desafios para adquirir competência ou sabedoria afim de atingir a meta final idealizada. A prática artística é análoga uma vez que o artista, do mesmo modo, enfrenta as dificuldades e tensões em materializar suas ideias. O percurso criativo é labiríntico, cheio de idas e vindas até a obra de arte se completar.

O poema, como metáfora, é o campo conceitual que reúne 13 artistas do Coletivo Forma. Com poéticas bem distintas fez-se necessário agrupá-los em três eixos: Fluxos/Territórios, Labirintos e Reencantamento. No entanto esse pertencimento é puro didatismo, uma vez que os trabalhos não se encerram em um só território (categoria), mas ultrapassam limites e se instalam no in-between das fronteiras, como a deriva de Ulisses.

Os eixos nos permitem cartografar os espaços, os tempos e os movimentos que desenham os processos criativos com cenários muito extremos. É possível também mapear questões que, como linhas de pesquisas, referenciam e direcionam os eixos selecionados: errância, deslocamentos, itinerâncias, migrações, rumos, caminhos, erros, acertos, acasos, riscos, desterritorialização, o desconhecimento de novos territórios, a imensidão das possibilidades das digressões, as mil e uma histórias, riquezas, surpresas, enfrentamentos e descobertas que criam o reencantamento do mover-se.

E é nesse ambiente de fluxos e instabilidades que o corpo habita e constrói narrativas. No âmbito da exposição as narrativas dos artistas recuperam a genealogia do mito e da cultura do antes e do presente nas subjetividades que reencenam a nova sensibilidade contemporânea. 

Nancy Betts
Março 2022